domingo, 18 de julho de 2010

A Alma Faminta

(Foto tirada em frente à Loja da Apple em NY )

Tarde tranquila e solzinho anêmico aqui em Brasília. Chego do meu ritual semanal na manhã de domingo: caminhada em ritmo acelerado, já que meu joelho não acompanhou minha vontade de correr. Fazer o quê, então tá!

Enquanto deixo baixar a adrenalina, vejo CNN, GNT, escuto Gal Costa e abro meus emails. Não resisto então em publicar um texto enviado pela minha irmã.


A Alma Faminta

"Não consigo contar as boas pessoas que conheço que, no meu entendimento, seriam até melhores se inclinassem os seus espíritos para o estudo das suas próprias fomes. "

M.F.K. Fischer

“Quando Eva mordeu a maçã, deu-nos o mundo tal como o conhecemos – belo, com defeitos e perigos, cheio de vida. Eva nos deu a varíola e a Somália, a vacina contra a pólio, o trigo e as rosas de Windsor”, conta-nos Barbara Grizzuti Harrison na esclarecedora e provocante coleção de ensaios Out of the garden: Women Writers on the Bible. “A atitude de radical curiosidade de Eva” também nos deu o desejo, o apetite e a fome.
Se não fosse Eva, eu não estaria me perguntando o que preparar para o jantar desta noite. Nem você. Se não fosse Eva, eu não estaria cozinhando projetos criativos que muitas vezes me fervem os miolos até se concretizarem. Mas também não conheceria os prazeres terrenos que amo, nem o intenso desejo por iguarias místicas que só o Espírito pode proporcionar: paz interior, alegria, harmonia.

A maioria de nós come três vezes ao dia (pelo menos), mas quantas vezes a nossa fome é verdadeiramente satisfeita? Um pedaço de bacon, um ovo, um biscoito de queijo me satisfazem mais do que meia grapefruit. Porém, a menos que eu queira ficar do tamanho de uma abóbada dourada, sinto que não posso me conceder isso com freqüência. Muitas de nós constantemente se policiam – quanto a comida, relacionamentos, carreiras – empurrando os desejos bem para o fundo do eu, como se uma forte determinação conseguisse mantê-los só como desejos. Mas estou pouco a pouco chegando à conclusão de que a fome é sagrada. Somos destinadas a ter fome todos os dias, e a satisfazer essa fome todos os dias. Por que mais o primeiro pedido da oração do Senhor seria o pão de cada dia, antes da assistência divina?

As nossas almas conhecem muitos tipos diferentes de fome: física, psíquica, emocional, criativa e espiritual. Mas o grande Criador nos deu os dons de razão, imaginação, curiosidade e discernimento; possuímos a capacidade de distinguir as nossas fomes. Esta manhã, você de fato tem fome de um biscoito no café da manhã, ou de uma pausa? Deseja beijos apaixonados, ou massa? Ou uma boa noite de sono? Então, não fique parada olhando reprises com aquela taça de vinho. Desligue a TV e meta-se nas cobertas e, se não estiver sozinha, convide alguém para ir junto.

“Quando escrevo sobre fome, de fato estou escrevendo sobre o amor e sobre a fome de amor, e sobre o calor e o amor pelo calor” confessou em 1943 a grande gastrônoma e poética escritora de assuntos culinários M.F.Fisher. “E depois, o calor, a riqueza e a bela realidade da fome se satisfazem...e tudo é uma coisa só.”
Não despreze o desejo, filha de Eva. Dentro do seu desejo há uma centelha do Divino. Do Espírito que deseja ser amado. Uma mulher com um apetite vigoroso foi criada para satisfazer esse anseio.
Amor. Fome. Apetite. Desejo. Santidade. Plenitude.
Tudo é Uno.

Extraído do livro:
"Simplicidade e Plenitude – um diário do bem estar e da alegria"
Sarah Ban Breathnach
E você, tem fome de quê?
Música, "Comida" de Titãs




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