terça-feira, 1 de novembro de 2011

A viagem na estação


Grande parte da minha infância aconteceu perto de uma estação de trem-de-ferro. 
Me lembro do barulho das máquinas, dos apitos do maquinista e do vai-vém dos vagões.
Meus avós moravam perto da estação ferroviária de Sete Lagoas e quando íamos visitá-los nos fins-de-semana ou nas férias, acompanhávamos a rotina barulhenta que fazia tremer o chão. 
Ouvíamos estórias, algumas engraçadas, outras trágicas.
Meu avó alertava para que não brincássemos perto dos vagões, dizia que era perigoso e que corríamos risco de nos machucar. Eu e meus irmãos obedecíamos e ficávamos na janela observando o movimento.
Minha cidade natal cresceu um pouco, meus avós fizeram a última viagem, a estação ferroviária foi desativada e a rua onde eles moravam se transformou numa moderna e movimentada avenida.  
Sempre que vou a Sete Lagoas e passo pela avenida fico pensando em como foi tudo tão diferente a algumas décadas atrás.
Muita coisa mudou, mas ficou a saudade.
Na plataforma daquela estação ficaram os sonhos, as ilusões e as alegrias da minha infância.

“Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.”
(Adélia Prado)


Ouço Encontros e Despedidas, de Milton Nascimento/Fernando Brant:




sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Beatlemania

 ( Fotografei: Beatles Museum - Liverpool )
 
Minha geração viveu numa época de grandes talentos musicais. Muitos deles são reverenciados até hoje pela geração Y e Z, nas quais se incluem meus filhos. Aprendemos e vivemos muita coisa boa. A grande maioria, ficou Beatlemaníaca. Não sei se posso me classificar como tal, mas conheço todas as músicas da eterna banda inglesa e também dos integrantes Paul , Ringo, Jonh e George.

Estive em Londres em 2008 e fiz a famosa travessia da Abbey Road. Em Liverpool,  fui ao famoso pub Cavern Club, ao Beatles Museum.  Neste ano  fui conferir  e reviver bons "Beatles moments" no show de Paul McCartney no Rio de Janeiro.

Quando Paul McCartney tocou " The long and winding road" ficamos inebriados.  A multidão presente se emocionou como eu e foi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Inesquecível!



The Long And Winding Road
Paul McCartney

The long and winding road
That leads to your door
Will never disappear
I´ve seen that road before
It always leads me here
Lead me to your door

The wild and windy night
That the rain washed away
Has left a pool of tears
Crying for the day
Why leave me standing here
Let me know the way

Many times I´ve been alone
And many times I´ve cried
Anyway you´ll never know
The many ways I´ve tried

But still they lead me back
To the long winding road
You left me standing here
A long long time ago
Don´t keep me waiting here
Lead me to your door

But still they lead me back
To the long winding road
You left me standing here
A long long time ago
Don´t keep me waiting here
Lead me to your door


A estrada longa e sinuosa
Paul McCartney

A estrada longa e sinuosa
Que leva até a sua porta
Nunca desaparecerá
Eu já vi esta estrada antes
Ela sempre me traz aqui
Me traz até a sua porta

Na noite selvagem e tempestuosa
Que a chuva levou embora
Deixou uma piscina de lágrimas
Chorando pelo dia
Por que me deixar aqui sozinho
Deixe-me saber o caminho

Muitas vezes eu estive sozinho
E muitas vezes eu chorei
De qualquer forma, você nunca saberá
Os muitos caminhos que tentei

Mas ainda assim elas me trazem de volta
À longa estrada sinuosa
Você me deixou parado aqui
Muito, muito tempo atrás
Não me deixe esperando aqui
Traga-me à sua porta

Mas ainda assim elas me trazem de volta
À longa estrada sinuosa
Você me deixou parado aqui
Muito, muito tempo atrás
Não me deixe esperando aqui
Traga-me à sua porta

sábado, 10 de setembro de 2011

Sempre Nova York

(Fotografei: Central Park  )
No dia 11 de setembro de 2001 cheguei mais cedo ao trabalho. Cumpri minha rotina diária, degustei um cafezinho e o gosto amargo das imagens dos ataques. Instaneamente fiquei em estado de choque, em silêncio e duvidando das cenas mostradas na TV.  Aviões que se chocavam contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, Pentágono e arredores. O saldo da catástrofe somou quase 3.000 mortos, dez anos se passaram e o mundo nunca mais foi o mesmo:






Minha publicação de hoje é em homenagem a Nova York, que depois do pânico, dor e muito trauma, continua inquieta, iluminada, colorida e acolhedora.  Em maio de 2010 passei 10 dias mágicos na Big Apple, a cidade que nunca dorme, imortalizada por Frank sinatra na música New York, New York. 
A visita a NY quase me tornou uma celebridade (rsrs), com a matéria que a  Mara Luquet  divulgou na Rádio CBN e no Blog sobre minha viagem.



As músicas New York, New York com Frank Sinatra e Empire State of Mind, com Alicia Keys ( nas duas versões) simbolizam hinos para homenagear a magia de Nova York. 
Se você gosta de música e de Nova York, vai amar.  Se ainda não conhece,  vá. Recomendo.






  

Até a próxima.

 

domingo, 28 de agosto de 2011

Cinema Paradiso

Cinema Paradiso é o filme que está na minha lista de "movieslist" prediletos. Tenho  paixão pelo cinema, valorizo relações de lealdade e cumplicidade como a de Alfredo e Salvatore, minhas origens estão na Itália e a trilha sonora é uma das mais belas que já ouvi.

Minha mãe teve na minha infância a função que o Alfredo teve na vida de Salvatore, estimulando os filhos a gostarem de cinema. Somos descendentes de italianos e o gosto e preferência cultural podem estar na memória genética.
Meus bisavós maternos, Aristides e Filomena Lanza, nasceram em Verona, região de Veneto, na cidade de Cerea e vieram pro Brasil trazendo os costumes, heranças e lembranças.

Minha avó materna chamava-se Edmea, nome que herdei e que também, poderia ser da personagem do filme E La Nave Vá, de Federico Fellini. Ele traz na "película" a personagem Edmea, cantora de ópera, cujas cinzas são jogadas no mar pelo jornalista Orlando, a bordo de um luxuosos navio a caminho de Nápoles.

Já escrevi alguns artigos sobre minha infância, passeios de bicicleta com meu pai, rodas de violão na cozinha de casa, coral da igreja de Sant'Ana na missa de domingo.

Hoje escrevo sobre a minha mãe e nosso batismo nas salas de cinema na infância.
Ìamos às matinês, costume e ritual de domingo, assim como assistir às missas na paróquia onde morávamos.

Ainda, sobre o filme Cinema Paradiso, gravei a cena mais verdadeira e que mais tocou. Alfredo, ao se despedir de Salvatore, fala ao seu afilhado que vai tentar a sorte na cidade grande:

- Não duvide, não sofra, não olhe para trás. Não deixe que a saudade te faça voltar e te impeça de seguir seus sonhos. 

Fiquei emocionada com a despedida deles e todas as vezes que assisto não tem jeito, as lágrimas rolam sem pedir licença.


Dedico este artigo a minha mãe, com muito carinho.

THE END!

Abaixo, duas versões do tema do filme Cinema Paradiso, a alma da gente gosta de ouvir.





terça-feira, 23 de agosto de 2011

Até que a morte nos separe


Até que a vida ou a morte nos separe?


Uma palavra que sempre me provoca reflexão é VIDA.

Para viver basta estar vivo?
Com certeza, respondo que não basta. Ultimamente, livros de auto-ajuda dão ensinamentos, dicas e roteiros para simplicar a vida, mudar sua vida, etc.

Mas o que mais tem chamado minha atenção nos útimos tempos e que merece destaque é a quantidade de livros lançados com sugestões de coisas interessantes para se fazer ANTES de MORRER.

101 coisas para fazer antes de morrer
1001 discos para ouvir antes de morrer
1001 filmes para assistir antes de morrer
1001 livros para ler antes de morrer
1000 lugares para conhecer antes de morrer


As coletâneas feitas pelos autores são merecidas, mas não é este aspecto o que me provoca inquietação.

O que me desperta indignação é a urgência de se fazer inúmeras coisas antes de morrer, sem estar realmente VIVO, como disse o poeta Guimarães Rosa, vida, no rabo da palavra.

Optar pela vida é uma decisão que pode estar sendo adiada sem que se perceba.
Estar vivo e viver escolhendo a vida requer consciência.

Estamos muito ocupados fazendo coisas urgentes antes de morrer, sem estar escolhendo a vida. Tudo se tornou clichê.

Estamos na dualidade, cumprindo metas antes de morrer e na dúvida se existe vida após a morte.

Eu me pergunto:

Existe vida antes da morte? 

Li algumas partes da Bíblia e no livro Gênesis, conta-se a história de Esaú e Jacó, filhos de Isaac. Reflexões muito proveitosas sobre escolhas e viver, cada um a seu modo. Por medo da morte, Esaú decide viver como se já estivesse morto e tudo desse na mesma. ( Gênesis, XXV, 27 a 34).


Escolher a vida sem manual, bula ou receita. Eis o desafio.
Viver o momento, sem pressa ou a toda velocidade, inquieto ou em paz.
Cada um sabe do seu ritmo e do que dá conta.

Eu escolhi meu jeito, sem complicação.


Simples assim! Quero viver!
Que haja VIDA antes da morte e quem sabe me animo a escrever  alguns livros ou dicas:
  • 1001 coisas para fazer enquanto estiver VIVA
  • 1001 músicas para ouvir enquanto tiver audição
  • 1001 filmes para ver enquanto tiver visão
  • 1001 lugares para visitar enquanto tiver pique para caminhar, vontade de viajar e desejo de aventura.
Selecionei algumas músicas para celebrar a vida. Pode ser piegas. Tudo bem...

A primeira "Viva La Vida" Cold Play.  Mágica!
A segunda música "O que é, o que é" de Gonzaguinha.
a terceira, Testamento de Vinícius de Morais
Espero que gostem.

Eu escolho a vida, até que a morte nos separe.



domingo, 14 de agosto de 2011

Sintonia

 (Fotografei: British Museum - Londres Maio 2008)

"Cantem e dancem juntos e sejam alegres, mas que cada um também fique só, assim como as cordas do alaúde são sós, embora vibrem a mesma música. 
Deêm os seus corações, não para um conter o do outro, pois somente a mão da vida pode conter os corações. 
Fiquem juntos, mas nunca perto demais, pois as colunas do templo, para sustentá-lo, estão separadas. 
O carvalho e o cipreste não crescem, um à sombra do outro." 
Khalil Gibran

 

"As coisas que se harmonizam em tom, vibram em conjunto. As coisas que, entre si, têm afinidade em suas essências mais íntimas atraem-se mutuamente".Confúcio


            

 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Como me Tornei um Louco

Como me Tornei um Louco
(Khalil Gibran)



Me perguntas como me tornei um louco.
Foi assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos Deuses terem nascido, despertei de um sonho profundo
e notei que todas as minhas máscaras haviam sido roubadas
 - as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas.
Corri sem máscara pelas ruas cheias de gente, gritando: "Ladrões, ladrões. Malditos ladrões !”
Homens e mulheres riam de mim e alguns corriam com medo para suas casas.
Quando cheguei a praça do mercado, um menino trepado no telhado de uma casa gritou: 
"Você é um louco".
Olhei para cima para vê-lo.
O sol brilhou pela primeira vez em meu rosto descoberto.
Pela primeira vez o sol beijava meu rosto nu, e minha alma se encheu de amor pelo sol,
e nunca mais desejei minhas máscaras.
Assim me tornei um louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha própria loucura.
A liberdade da solitude e a segurança de não ser compreendido.

Pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós. (Khalil Gibran)


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vocação para a felicidade

VOCAÇÃO PARA A FELICIDADE


Carlos Drummond de Andrade



Não serei o poeta de um mundo caduco.

Não escreverei versos chorosos, cantando tristezas infinitas,

amores impossíveis, saudades dolorosas,

paixões trágicas e não correspondidas.


Tenho a vocação para a felicidade.

Ser feliz não me traz sentimento de culpa.

Não preciso da tristeza para justificar a inutilidade da vida.

Não preciso morrer e ir ao céu para encontrar a felicidade.

Quero-a e tenho-a neste espaço terreno do aqui e do agora.

A felicidade, tal e qual o amor, está dentro de mim

E transborda em ternuras, em melodias,

em carinhos, em alegrias, em cantos e encantos.


Sou feliz e não preciso me justificar.

Sorrio sem ver passarinho verde.

Não tenho medo de ser feliz.


Faço minha estrela brilhar.

Sem receio dos encontros, desencontros,

encantos e desencantos que o amor me diz.


Contrariedades? Eu as tenho.

E quem não as tem na vida secular?

Escassez de dinheiro? Nem é bom falar.

Amores não correspondidos? Separações?

Rejeições? Saudades incuráveis?

Carinhos reprimidos, ternuras guardadas,

sem a contraparte do outro?

Eu tenho aos montões.

Sou o rei das perdas, necessárias ao meu crescimento.


Contudo quem não soube a sombra não sabe a luz.

E num livro de matemática existencial

juntei todos esses problemas insolúveis,

com as respostas nas últimas páginas.

Mas pra que me debruçar

sobre eles, procurando a solução

se a própria vida me conduz

à resposta final?


Sem medo de ser feliz vou por aqui e por ali

por onde os caminhos, as trilhas,

Os atalhos me levarem, traçando meu rumo.

Às vezes com alguma tristeza,

mas quem disse que felicidade

é o contrário de tristeza?

Tristeza é só uma momentânea falta de alegria!


É, amigo, amanhã é sempre um novo dia

E quando a infelicidade passar por aqui,

minhas malas estarão prontas

para eu ir por ali.
 
Bob Marley - Is this love


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Redescobrir




Carl Jung fala do lado sombrio que todos nós seres humanos precisamos entrar em contato para tomarmos consciência de nossa luz.


Redescobrir ser luz e sombra.



Reli um poema que se ajustou ao meu momento que exprime o contraste dos sentimentos, absolutamente "farta de semideuses":


Poema em linha reta



Fernando Pessoa

(Álvaro de Campos)


Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,

Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo,

Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,

Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,

Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,

Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado

Para fora da possibilidade do soco;

Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,

Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.



Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,

Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana

Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;

Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?



Poderão as mulheres não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!

E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,

Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?

Eu, que venho sido vil, literalmente vil,

Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.










"Quem não soube a sombra, não sabe a luz" (Taiguara)