sexta-feira, 19 de julho de 2013

Vem ver o mar

( Fotografei Estoril - Portugal -  Maio de 2013 )

Mar Português 

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.

Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

Fernando Pessoa

No link abaixo, a música Vem Ver ( o mar, ai como é bom...) Tamy



( O mar parece um grande caldeirão de sopa - Mafalda ) 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Bagagem




O filósofo Michel Onfray divide toda viagem em três tempos.
O tempo ascendente do desejo e dos preparativos da viagem, o tempo excitante da descoberta do novo e do desconhecido e o tempo descendente do retorno ao lar.
A viagem não existiria sem o retorno às raízes e ao lugar seguro. A pessoa sem endereço fixo não é viajante, e sim errante. Nós precisamos ter um ponto fixo para, de tempos em tempos, nos tornarmos viajantes. Somos viajantes porque sabemos que temos nesta terra um lugar onde retornar com as malas e as lembranças.
Após a viagem e seu movimento frenético, após o uso máximo das nossas capacidades físicas, intelectuais e emotivas, precisamos do retorno e do repouso para recuperararmos as forças e energias gastas.
Precisamos reencontrar nossa cama, nossos livros, papéis e canetas, nosso cotidiano ritmado e organizado. Após os sobressaltos, alegrias e surpresas do percurso, nossa casa se torna um desejo manifesto.
Mas quando voltamos, já não somos os mesmos. Porque retornar significa voltar de algum lugar, com outro estado de espírito. O tempo excitante da viagem é substituído pelo tempo descendente da assimilação lenta de tudo que vimos, provamos, tocamos, sentimos.
No tempo descendente do retorno, durante o repouso do cansaço da viagem, amadurecemos a experiência . O que descobrimos sobre o estrangeiro? E o mais importante, o que descobrimos sobre nós mesmos?
Nesta hora organizamos nossas lembranças. Qual foi o melhor momento? Qual a pior lembrança? Quais as comparações entre os lugares percorridos e nosso quotidiano familiar? Quais nossas certezas e incertezas.


O retorno, para nós, é a garantia de que daqui a pouco partiremos de novo.
Onfray, Michel. Théorie du voyage. Poétique de la géographie, Le Livre de Poche







domingo, 3 de março de 2013

O poder transcendente da solidão

                                          (No sossego do Central Park - NY em maio de 2010)


Sempre gostei de recolhimento e confesso que muitas vezes a sensação de desajuste me acompanhou por longos períodos. Assistindo a palestra da escritora Susan Cain me identifiquei com algumas citações.


Publico algumas frases que trazem o assunto em questão: ser introvertido.



A escritora francesa Anais Nin escreveu:

"Our culture made a virtue of living only as extroverts. We discourage the inner journey, the quest for a center. So we lost our center and have to find it again.


Plantar é um ato solitário, colher é um ato a ser compartilhado.



Em uma cultura onde ser sociável e extrovertido é valorizado como nunca, pode ser difícil, até vergonhoso, ser introvertido. Mas, como Susan Cain argumenta nesta apaixonante palestra, introvertidos trazem ao mundo habilidades e talentos extraordinários e devem ser encorajados e reconhecidos.
O link da palestra:
http://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts.html?utm_source=newsletter_weekly_2012-04-10&utm_campaign=newsletter_weekly&utm_medium=email


E para descontrair um pouco, a música Timidez - Biquini Cavadão


domingo, 10 de fevereiro de 2013

Experiências e sensações


(escolhi esta foto porque ela exprime harmonia, estética, zelo, ordem, organização, cuidado) 


TEORIA DAS JANELAS PARTIDAS

Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. 
Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.


Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.



É comum atribuir à pobreza as causas de delito.

Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e da esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.


O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. 

Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?
Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.


Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como o "vale tudo". Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.



Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.


Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.



Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor a criminalidade) , estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.



A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujeira das estacões, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.



Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'.

A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.


A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de fato, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero.



Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.



Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja

em nosso bairro, na vila ou condominio onde vivemos, não só em cidades grandes. 
(artigo publicado na página Fikadika Morumbi do facebook em 10.02.2013)


Podemos extrair várias interpretações da teoria que explica porque o ambiente externo provoca alterações em nosso comportamento. 

A convivência prolongada em ambientes sujos, desorganizados, sem manutenção e em desordem podem desencadear várias alterações no nosso sistema sensorial.
Lamentável é entender porque mendigos comem lixo, vivem em locais impróprios para seres humanos habitarem. A sujeira, a desordem, os odores interferem no comportamento porque estimulam a perda de acuidade estética, visual, olfativa, auditiva.


Busquemos o belo, a organização, o cumprimento das leis, a ética, a boa convivência. 



Para finalizar, Rosa Passos, elegância e estética na voz e repertório: