sábado, 27 de fevereiro de 2010

Do you wanna dance?


Gostei muito do artigo que Stephen Kanitz escreveu sobre o costume de dançar ao longo dos tempos.

Também li "Domínio do movimento" de Rudolf Laban,  que traz algumas práticas de expressões corporais e faz um belo estudo sobre a arte do movimento.

A dança está presente desde os templos bíblicos.  Quando Salomé  apresentou , a  pedido do rei Herodes, a "dança dos sete véus", ele ficou extasiado e cumpriu a promessa de atender a qualquer pedido da dançarina, ao entregar a cabeça de João Batista.

Alguns costumes e crenças se perderam, outros se adaptaram  e hoje  não é mais comum  que as mulheres dancem para seus homens.
Aqui no Ocidente, esse tipo de dança é considerada como submissão ou então  tem conotação promíscua.  Os rituais de dança em grupo e aos pares se  descaracterizou, se transformou em funk e outros ritmos e estilos.

A beleza do movimento, da expressão, da sedução e da feminilidade se perdeu e com isso perdemos convivência, alegria e o contato despretensioso e saudável com o outro.

Meus pais se conheceram nos salões de festas e gostavam muito dos bailes. Eram frequentadores assíduos e talvez por essa afinidade que os uniu estejam casados até hoje. Lendo o artigo abaixo consegui voltar no tempo e entender melhor os costumes da época em
que  se conheceram.

A escolha do seu par
Stephen Kanitz

Há trinta anos, os adolescentes encontravam o sexo oposto em bailes de salão organizados por clubes, igrejas ou pais responsáveis preocupados com o sucesso reprodutivo de seus rebentos.

Na dança de salão o homem tem uma série de obrigações, como cuidar da mulher, planejar o rumo, variar os passos, segurar com firmeza e orientar delicadamente o corpo de uma mulher. Homens levam três vezes mais tempo para aprender a dançar do que mulheres. Não que eles sejam menos inteligentes, mas porque têm muito mais funções a executar. Essa sobrecarga em cima do homem permite à mulher avaliar rapidamente a inteligência do seu par, a sua capacidade de planejamento, a sua reação em situações de stress. A mulher só precisa acompanhá-lo. Ela pode dedicar seu tempo exclusivamente à tarefa de avaliação do homem.

Uma mulher precisa de muito mais informações do que um homem para se apaixonar, e a dança permitia a ela avaliar o homem na delicadeza do trato, na firmeza da condução, no carinho do toque, no companheirismo e no significado que ele dava ao seu par. Ela podia analisar como o homem lidava com o fracasso, quando inadvertidamente dava uma pisada no seu pé. Podia ver como ele se desculpava, se é que se desculpava, ou se era do tipo que culpava os outros.

Essa convenção social de antigamente permitia ao sexo feminino avaliar numa única noite vinte rapazes entre os 500 presentes num grande baile. As mulheres faziam um verdadeiro teste psicológico, físico e social de um futuro marido e obtinham o que poucos testes psicológicos revelam. Em poucos minutos conseguiam ter uma primeira noção de inteligência, criatividade, coordenação, tato, carinho, cooperação, paciência, perseverança e liderança de um futuro par.

Infelizmente, perdemos esse costume porque se começou a considerar a dança de salão uma submissão da mulher ao poder do homem, porque era o homem quem convidava e conduzia a mulher.

Criaram o disco dancing, em que homem e mulher dançam separados, o homem não mais conduz nem sequer toca no corpo da mulher. O som é tão elevado que nem dá para conversar, os usuais 130 decibéis nem permitem algum tipo de interação entre os sexos.

Por isso, os jovens criaram o costume de "ficar", o que permite a uma garota conhecer, pelo menos, um homem por noite sem compromisso, em vez de conhecer vinte rapazes numa noite, também sem compromissos maiores.

Pior: hoje o primeiro contato de fato de um rapaz com o corpo de uma mulher é no ato sexual, e no início é um desastre. Acabam fazendo sexo mecanicamente em vez de romanticamente como a extensão natural de um tango ou bolero. Grandes dançarinos são grandes amantes, e não é por coincidência que mulheres adoram homens que realmente sabem dançar e se apaixonam facilmente por eles.

Masculinizamos as mulheres no disco dancing em vez de tornar os homens mais sensíveis, carinhosos e preocupados com o trato do corpo da mulher. Não é por acaso que aumentou a violência no mundo, especialmente a violência contra as mulheres. Não é à toa que perdemos o romantismo, o companheirismo e a cooperação entre os sexos.

Hoje, uma garota ou um rapaz tem de escolher o seu par num grupo muito restrito de pretendentes, e com pouca informação de ambas as partes, ao contrário de antigamente.

Eu não acredito que homens virem monstros e mulheres virem megeras depois de casados. As pessoas mudam muito pouco ao longo da vida, na realidade elas continuam a ser o que eram antes de se casar. Você é que não percebeu, ou não soube avaliar, porque perdemos os mecanismos de antigamente de seleção a partir de um grupo enorme de possíveis candidatos.

Fico feliz ao notar a volta da dança de salão, dos cursos de forró, tango e bolero, em que novamente os dois sexos dançam juntos, colados e em harmonia. Entre o olhar interessado e o "ficar" descompromissado, eliminamos infelizmente uma importante etapa social que era dançar, costume de todos os povos desde o início dos tempos.

Se você for mãe de um filho, ajude a reintroduzir a dança de salão nos clubes, nas festas e nas igrejas, para que homens aprendam a lidar com carinho com o corpo de uma mulher.

Se você for mãe de uma filha, devolva a ela a oportunidade que seus pais lhe deram, em vez de deixar sua filha surda, casada com um brutamontes, confuso e insensível idiota.



Do you wanna dance?



Música: Do you wanna dance - Jonhn River



Valsinha- Chico Buarque

3 comentários:

Unknown disse...

Ótima a sua escolha de texto. Dá para fazer uma boa reflexão. Vou mandar par os meus filhos.
Beijo

edmeaoliveira disse...

Obrigada Wilson.
Profunda reflexão!

Francis Hesse Palestrante disse...

Esta musica me trás maravilhosas lembranças de um tempo que não volta mais. Exatamente os tempos de bem jovem, dos bailinhos na garagem, onde inclusive cheguei a criar um clubinho junto com outros amigos.