domingo, 10 de fevereiro de 2013

Experiências e sensações


(escolhi esta foto porque ela exprime harmonia, estética, zelo, ordem, organização, cuidado) 


TEORIA DAS JANELAS PARTIDAS

Em 1969, na Universidade de Stanford (EUA), o Prof. Phillip Zimbardo realizou uma experiência de psicologia social. Deixou duas viaturas abandonadas na via pública, duas viaturas idênticas, da mesma marca, modelo e até cor. Uma deixou em Bronx, na altura uma zona pobre e conflituosa de Nova York e a outra em Palo Alto, uma zona rica e tranquila da Califórnia. 
Duas viaturas idênticas abandonadas, dois bairros com populações muito diferentes e uma equipe de especialistas em psicologia social estudando as condutas das pessoas em cada local.


Resultou que a viatura abandonada em Bronx começou a ser vandalizada em poucas horas. Perdeu as rodas, o motor, os espelhos, o rádio, etc. Levaram tudo o que fosse aproveitável e aquilo que não puderam levar, destruíram. Contrariamente, a viatura abandonada em Palo Alto manteve-se intacta.



É comum atribuir à pobreza as causas de delito.

Atribuição em que coincidem as posições ideológicas mais conservadoras, (da direita e da esquerda). Contudo, a experiência em questão não terminou aí. Quando a viatura abandonada em Bronx já estava desfeita e a de Palo Alto estava há uma semana impecável, os investigadores partiram um vidro do automóvel de Palo Alto.


O resultado foi que se desencadeou o mesmo processo que o de Bronx, e o roubo, a violência e o vandalismo reduziram o veículo ao mesmo estado que o do bairro pobre. 

Por quê que o vidro partido na viatura abandonada num bairro supostamente seguro, é capaz de disparar todo um processo delituoso?
Não se trata de pobreza. Evidentemente é algo que tem que ver com a psicologia humana e com as relações sociais.


Um vidro partido numa viatura abandonada transmite uma ideia de deterioração, de desinteresse, de despreocupação que vai quebrar os códigos de convivência, como de ausência de lei, de normas, de regras, como o "vale tudo". Cada novo ataque que a viatura sofre reafirma e multiplica essa ideia, até que a escalada de atos cada vez piores, se torna incontrolável, desembocando numa violência irracional.



Em experiências posteriores (James Q. Wilson e George Kelling), desenvolveram a 'Teoria das Janelas Partidas', a mesma que de um ponto de vista criminalístico conclui que o delito é maior nas zonas onde o descuido, a sujeira, a desordem e o maltrato são maiores.

Se se parte um vidro de uma janela de um edifício e ninguém o repara, muito rapidamente estarão partidos todos os demais. Se uma comunidade exibe sinais de deterioração e isto parece não importar a ninguém, então ali se gerará o delito.


Se se cometem 'pequenas faltas' (estacionar em lugar proibido, exceder o limite de velocidade ou passar-se um semáforo vermelho) e as mesmas não são sancionadas, então começam as faltas maiores e logo delitos cada vez mais graves. Se se permitem atitudes violentas como algo normal no desenvolvimento das crianças, o padrão de desenvolvimento será de maior violência quando estas pessoas forem adultas.



Se os parques e outros espaços públicos deteriorados são progressivamente abandonados pela maioria das pessoas (que deixa de sair das suas casas por temor a criminalidade) , estes mesmos espaços abandonados pelas pessoas são progressivamente ocupados pelos delinquentes.



A Teoria das Janelas Partidas foi aplicada pela primeira vez em meados da década de 80 no metrô de Nova York, o qual se havia convertido no ponto mais perigoso da cidade. Começou-se por combater as pequenas transgressões: graffitis deteriorando o lugar, sujeira das estacões, alcoolismo entre o público, evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Os resultados foram evidentes. Começando pelo pequeno conseguiu-se fazer do metrô um lugar seguro.



Posteriormente, em 1994, Rudolph Giuliani, prefeito de Nova York, baseado na Teoria das Janelas Partidas e na experiência do metrô, impulsionou uma política de 'Tolerância Zero'.

A estratégia consistia em criar comunidades limpas e ordenadas, não permitindo transgressões à Lei e às normas de convivência urbana. O resultado prático foi uma enorme redução de todos os índices criminais da cidade de Nova York.


A expressão 'Tolerância Zero' soa a uma espécie de solução autoritária e repressiva, mas o seu conceito principal é muito mais a prevenção e promoção de condições sociais de segurança. Não se trata de linchar o delinquente, nem da prepotência da polícia, de fato, a respeito dos abusos de autoridade deve também aplicar-se a tolerância zero.



Não é tolerância zero em relação à pessoa que comete o delito, mas tolerância zero em relação ao próprio delito. Trata-se de criar comunidades limpas, ordenadas, respeitosas da lei e dos códigos básicos da convivência social humana.



Essa é uma teoria interessante e pode ser comprovada em nossa vida diária, seja

em nosso bairro, na vila ou condominio onde vivemos, não só em cidades grandes. 
(artigo publicado na página Fikadika Morumbi do facebook em 10.02.2013)


Podemos extrair várias interpretações da teoria que explica porque o ambiente externo provoca alterações em nosso comportamento. 

A convivência prolongada em ambientes sujos, desorganizados, sem manutenção e em desordem podem desencadear várias alterações no nosso sistema sensorial.
Lamentável é entender porque mendigos comem lixo, vivem em locais impróprios para seres humanos habitarem. A sujeira, a desordem, os odores interferem no comportamento porque estimulam a perda de acuidade estética, visual, olfativa, auditiva.


Busquemos o belo, a organização, o cumprimento das leis, a ética, a boa convivência. 



Para finalizar, Rosa Passos, elegância e estética na voz e repertório:

   



Um comentário:

Sylvio Mário Bazote disse...

Tempos atrás, no local onde trabalhava, ouvi que empresas alemãs (e algumas japonesas) adotaram a política de que qualquer problema na linha de produção, por menor que fosse, resultaria em parar imediatamente todo aquele setor. A ideia é de que pequenas falhas que não são imediatamente reparadas se tornam “parte de paisagem”, não sendo mais percebidas ou corrigidas depois de algum tempo. O acúmulo de pequenas falhas resultaria em gambiarras ou desgastes que, com o tempo, poderiam causar maior prejuízo material e de tempo para avaliação e correção do que o setor ser prontamente parado, forçando uma imediata atenção e ação para deixar todo o processo de produção o mais próximo possível da perfeição o tempo todo.

Penso que devemos sempre nivelar por cima, mesmo que muitas vezes não consigamos atingir as metas a que nos propomos e fiquemos frustrados. Melhor estar frustrado por não conseguir fazer algo bem do que satisfeito por fazer algo de forma ruim.
Isso serve para o pessoal e resvala no social, onde as pessoas parecem ter perdido noções básicas de educação e respeito ao próximo como colocar a mão na frente do nariz antes de espirar, não arrotar próximo aos outros, nas filas não ficar esbarrando em quem está em sua frente, preservando um mínimo de cordialidade na convivência com o outro.
Não quer dizer que seremos sempre bons ou competentes, mas que devemos ter atenção e empenho para não nos acomodarmos em fazer desnecessariamente algo deselegante ou deficiente apenas porque “todo mundo faz”.