domingo, 26 de outubro de 2008

Esse caminho tem coração?

(Imagens - Oxford - Inglaterra)


Tudo é um entre milhões de caminhos (um camiño entre cantidades de camiños).
Portanto, você deve ter em mente que um caminho não é mais do que um caminho;
se achar que não deve segui-lo, não deve permanecer nele, sob nenhuma circunstância.

Para ter uma clareza dessas, é preciso ter uma vida disciplinada.
Só então você saberá que qualquer caminho não passa de um caminho, e não há afronta, para você nem para os outros, em largá-lo, se é isso o que o seu coração lhe manda fazer.
Mas sua decisão de continuar no caminho ou largá-lo deve ser isenta de medo e ambição.
Eu lhe aviso: olhe bem para cada caminho, e com propósito.
Experimente-o tantas vezes quanto achar necessário. Depois, pergunte-se, e só a si, uma coisa. Essa pergunta é uma que só os muito velhos fazem. Meu benfeitor certa vez me contou a respeito, quando eu era jovem, e meu sangue era forte demais para poder entendê-la. Agora eu a entendo.
Dir-lhe-ei qual é: esse caminho tem coração?
Todos os caminhos são os mesmos: não conduzem a lugar algum. São caminhos que atravessam o mato ou que entram no mato. Em minha vida, posso dizer que já passei por caminhos compridos, compridos, mas não estou em lugar algum. A pergunta de meu benfeitor agora tem significado: Esse caminho tem coração?
Se tiver, o caminho é bom; se não tiver, não presta. Ambos os caminhos não conduzem a parte alguma; mas um tem coração e o outro, não. Um torna a viagem alegre: enquanto você o seguir, será um com ele. O outro o fará maldizer sua vida. Um o torna forte; o outro o enfraquece.

(Carlos Castañeda – A erva do diabo)

"Um homem caminhava por uma estrada larga e tranquila sem muito movimento, sem surpresas e aparentemente segura.
Tudo estava no seu lugar, como de costume.

Caminhava e caminhava,
até que avistou uma trilha
que se abria à margem, entre as árvores.
Ele que já tinha avistado outras trilhas,
umas estreitas, outras suspeitas
e outras escuras de dar medo,
subitamente,
sem pensar a respeito,
embrenhou-se nela,
atendendo a um apelo íntimo para explorá-la.

O novo caminho, aonde levaria?
Não tinha a menor idéia,
tinha apenas um novo rumo.
Ali tudo era cor, cheiro e sabor,
diferente da apatia do caminho anterior
- um convite a seguir em frente.
Nem sempre podia prever o que viria adiante
e este desafio dava sentido a cada passo seu.
Sentia-se vivo, desperto e atento.
Gostava de conviver
com os imprevistos e as surpresas
do novo caminho.

Assim prosseguiu,
fazendo outras e novas escolhas,
entre os caminhos que se delineavam.
Sentia-se jovem e apaixonado pela vida.
Continuaria mesmo sem a certeza
sobre onde chegaria.
Compreendeu, finalmente,
que mais importante do que saber onde chegar
é sentir-se bem com o seu jeito de caminhar. "


Ouvindo "A Estrada" Cidade Negra:



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