sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Lembranças da infância

 "Estou só e não resisto, muito tenho pra falar"


Minha família mineira sempre gostou de festas e reuniões de amigos.
Comemoravamos aniversários, dia dos pais, dia das mães, formatura e quando não havia nenhuma data especial meus pais logo davam um jeito de reunir amigos.
Faziam tudo no jeito mineiro simples e sem ostentação.
Meu pai tinha muitos amigos músicos e na época o costume era fazer serenata, principalmente nas noites de lua cheia.
Eles possuiam um vasto repertório musical.
Os músicos, Herberto, Humberto, meu pai, Dirceu, tocavam e cantavam músicas muito românticas: Carinhoso, Perfidia, El dia em que me quieras e outros boleros. Meu pai conta muitos casos dessa época e minha mãe fica brava de ciúme quando falam das moças sedutoras que faziam charme pros músicos.
Alguns casos são engraçados, como o caso do cachorro bravo na casa da Rosa, hoje esposa de Humberto.
Meu pai diz que quando faziam serenata e o cachorro ficava bravo, eles tocavam Carinhoso e o cachorro adormecia...imaginem...


Nas reuniões haviam sempre muitos violões, vozes, cantos e poesias e Célia Santana declamava suas trovas e poemas.
(Célia Santana é uma grande trovadora de nossa cidade e ganhou vários prêmios).
Me lembro também dos meus pais cantando no coral da igreja de Sant'ana .
Eu ia com eles a missa de domingo, era criança bem pequena e ficava maravilhada com as vozes daquele coral.
O regente era João Lucas, grande amigo do meu pai.
A música que ficou na minha lembrança foi: "Eu vos dou um novo mandamento...que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.."
Esses versos nas vozes do coral eram de arrepiar de emoção.
Aquele coral era lindo, ficava no mezanino da igreja e inundava a missa de domingo com cânticos maravilhosos.
Os sinos da igreja tocavam e até hoje esses sons me remetem à minha infância.
Aqui em Brasília vou algumas vezes assistir a missa de domingo na Ermida Dom Bosco.
Lá os monges também tocam os sinos do mosteiro no horário da missa.
Chego a ficar emocionada me lembrando das missas dominicais com minha família lá em Minas.

Bastou ouvir hoje uma música de Milton Nascimento - Travessia - para acessar todas essas memórias.
Essa música foi cantada muitas vezes na cozinha de minha casa, alguns violões e voz de um amigo de meu pai, Marcelo Martins.
Participavam dos encontros musicais lá em casa Marcelo e Cotinha, Dirceu e Maura, Celso e Célia, Enda e Márcio, tantos casais queridos, presentes e amigos até hoje.
Minha família é muito ligada em música e dá prá entender o porquê. Respiravamos música.
Meu primeiro presente de Natal quando meu pai comprou um toca discos, foi um LP dos Carpenters - Only yesterday. Que emoção!!!
Minha irmã Silvana aprendeu violão clássico com o professor Mário Alves,
Fernanda, minha filha estudou piano com Profa. Sonia Labate, meu sobrinho Vinicius
é exemplar no teclado e eu arranhei algumas valsinhas no piano sem muito talento e tempo.
Como é bom olhar prá trás e lembrar de tantos bons momentos.

Quem não conhece e também prá quem quer ouvir Travessia - Milton Nascimento -

https://youtu.be/kDe3qOhrJLo?si=AHIoRHL6Ropmvnar



"Já não sonho
Hoje faço com meu braço o meu viver"

Travessia
(Milton Nascimento)


Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito,
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha,
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto,
Muito tenho prá falar

Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar
Meu caminho é de pedras,
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa,
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer

Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver

Solto a voz nas estradas,
Já não quero parar
Meu caminho é de pedras,
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa,
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto,
Vou querer me matar

Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte,
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver

 

3 comentários:

Anônimo disse...

!!!


Caio Tiburcio

Mila Lago disse...

Edméa, Minas é isso!
Ontem no show de Milton Nascimento todas essas lembranças e emoções vieram a tona.
Embalei meu filho Arthur, hoje com 15 anos, ao som de Cuitelinho.
Mas só quem é MINEIRO, sente isso tão intensamente. E olha que eu não sou uma mineira legítima, sou baianeira,mas me considero mineira fervorosa de coração.

Unknown disse...

Lindas lembranças em Edmea.
Nunca deixe que elas se apaguem. Elas continuam moldando nosso
caráter.